Resíduos orgânicos: tem solução para todos os tamanhos

O Encontro Lixo Zero 2020 passou, mas deixou conosco muitos conteúdos importantes que merecem destaque. Em sua primeira versão 100% online, organizado pela Casa Causa e Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB), o evento teve como objetivo disseminar os conceitos de lixo zero e economia circular e também as melhores práticas.

E como não poderia deixar de ser, o tema dos resíduos orgânicos gerou muito debate. A mesa “O Futuro do Resíduo Orgânico: Voltar para a Natureza” foi moderado por Eduardo Prates, sócio-diretor da Eco Circuito e contou com os especialistas Leandro Toledano (CEO da HomeBiogas), Mirna Suzin (AgroDKV) e Victor Hugo Argentino (coordenador da Morada da Floresta).

Neste artigo, reunimos os principais destaque dessa conversa.

Resíduos orgânicos representam mais de 50% do volume de lixo enviado para aterros no Brasil.

Apesar disso, não há no país um estudo detalhado sobre, por exemplo, quais são os setores que mais geram esses resíduos.

Uma pesquisa da CalRecycle em 2014 aponta que, no estado da Califórnia, restaurantes, condomínios residenciais, os setores hospitalar e hoteleiro são responsáveis por 50% dos resíduos alimentares e enviam mais de 90% destes resíduos para aterros. 

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, resíduos orgânicos podem ser "constituídos basicamente por restos de animais ou vegetais descartados de atividades humanas de diversas origens, como doméstica ou urbana (restos de alimentos e podas), agrícola ou industrial (resíduos de agroindústria alimentícia, indústria madeireira, frigoríficos...), de saneamento básico (lodos de estações de tratamento de esgotos), entre outras."

Imagem retirada do banco de dados: compostagem.

Imagem retirada do banco de dados: compostagem.

Resíduos orgânicos e efeito estufa

O lixo orgânico está entre os maiores vilões na geração de gases de efeito estufa. Boa parte dele é formada por restos de alimentos, provenientes de diversas fontes, principalmente residências, restaurantes, e setores comerciais como supermercados, shopping centers, hotéis, hospitais, entre outros. 

Também é importante ressaltar o grande desperdício que ocorre no campo e na cadeia de distribuição. Problemas logísticos e de infraestrutura fazem com que toneladas de grãos, leguminosos e frutas se percam no caminho ou simplesmente apodreçam nos armazéns. 

Um questionamento trazido nesta roda de conversa do Encontro Lixo Zero 2020 foi:

Num país onde mais de 30 milhões de brasileiros passam fome, com aterros esgotando suas capacidades, e 3000 lixões espalhados pelo país, o que podemos fazer?

Reflexos do COVID-19 na questão dos resíduos orgânicos

Como não poderia faltar, os especialistas que participaram do painel também trataram da relação entre a pandemia do Coronavírus e o meio ambiente. Dois pontos foram destaques no debate:

  • a cadeia de alimentos teve fortes impactos no desperdício. Com o fechamento de centros comerciais, não houve escoamento da produção na cadeia de distribuição, com casos de produtores passando o trator em plantações para reduzir o prejuízo.

  • a quarentena trouxe maior intimidade entre as pessoas e seus resíduos. Houve aumento nos índices de reciclagem e menor desperdício de alimentos nas residências.

 

Para as empresas geradoras de resíduos orgânicos, não foi diferente: maior consciência sobre esses resíduos, acompanhada de uma maior cobrança do público em relação ao respeito e regeneração do meio ambiente. 

A última pesquisa Kantar Thermometer, sobre consumo pós pandemia, mostra que 25% dos consumidores brasileiros acreditam que as marcas devem liderar as mudanças exigidas nos próximos tempos. E a pesquisa realizada pelo Covid Radar salienta que "quase todas as organizações (95%) acreditam que o sucesso no cenário pós COVID-19 depende de estratégias conectadas com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Quais as soluções para os resíduos orgânicos?

Em primeiro lugar é preciso combater o desconhecimento, tanto no nível do indivíduo quanto dos empresários, sobre a importância da economia circular do alimento e seus resíduos, que precisa retornar ao solo em forma sólida ou líquida como rica fonte de nutrientes. Também é necessário fortalecer e aplicar os 3Rs da gestão de resíduos, observando como Reduzir ou evitar sua geração, como Reutilizar ou reaproveitá-los, e finalmente quando Reciclar, desenvolver o conhecimento do processo, destino, ou tecnologia que melhor atende a sua realidade.

Todas as soluções apresentadas no Encontro Lixo Zero dependem da separação de resíduos orgânicos dos demais materiais, independentemente do perfil do gerador:

  • compostagem doméstica ou em restaurantes, com uso de composteiras ou minhocários in-loco de baixo volume, gerando húmus ou adubo para áreas verdes como hortas e jardins (Morada da Floresta)

  • compostagem industrial, com coleta e transporte do material em alto volume para processamento remoto para produção de adubo de alto interesse agrícola (Agro DKV)

  • biodigestão anaeróbia em baixo volume para geração in-loco de biogás para uso em cozinhas em residências e restaurantes, e biofertilizante para aplicação em áreas verdes (Homebiogas);

  • biodigestão aeróbia em baixo e alto volume para processamento in-loco preferencialmente em cozinhas industriais, com captação de dados e informações para evitar o desperdício de alimentos, e geração de biofertilizante líquido para aplicação em áreas verdes (Eco Circuito);

Faça sua parte, começando já!

Por fim, os especialistas deixaram algumas dicas para o público assistente começar a colocar em prática: 

  • separe seu resíduo, mobilize seu bairro, comunidade, sua empresa para implementação de alternativas para orgânicos, e ações a respeito dos resíduos na região e na cidade, seja ativo nos espaços possíveis.

  • geradores de resíduos devem procurar soluções alternativas considerando realidade de suas operações, precisam conhecer seus resíduos e aplicar os 3Rs na gestão. 

  • empresas devem nivelar a base de comparação entre alternativas ao incorporar as externalidades e impactos ambientais dos processos de envio para aterros vs alternativas sustentáveis. Nesta conta, devem entrar, por exemplo, os custos de envio de resíduos para os aterros sanitários somados aos custos indiretos (emissões dos caminhões, chorume gerado nos lixões etc.) Sem isso, a conta não é equilibrada, o que pode prejudicar a implementação de tecnologias alternativas.

As soluções e alternativas são diversas e cabem em diferentes realidades. A principal conclusão desse debate é que as soluções inovadoras precisam alcançar tomadores de decisões. Estes, por sua vez, precisam estar munidos de informações sobre os impactos ambientais e financeiros diretos e indiretos dos resíduos gerados por suas operações. 

Empresas têm um grande papel no combate às mudanças climáticas, cabe às organizações a escolha das tecnologias e processos mais compatíveis com suas operações, sempre de olho na sua organização, seus custos e sua gestão, mas, é claro, de olho nos impactos para as próximas gerações. Isso sim é causar.